quarta-feira, 8 de julho de 2009

No Brasil o maior ícone do New Journalism

Sete de julho, terça feira à noite - o auditório do MASP estava lotado de profissionais e estudantes da área de Comunicação Social. Todos estavam ansiosos para ouvir Gay Talese, autor de Fama e Anonimato, obra mais conhecida do jornalista no Brasil. Foram duas horas de conversa, mediada por Ilan Kow, editor-executivo de O Estado de S. Paulo.



Ele nem precisava dizer que era filho de italianos!

Como a maioria de nós paulistanos também o é, antes mesmo de contar a origem de seus pais, a platéia já sentia uma identificação natural com o grande escritor e jornalista ítaloamericano. A utilização das mãos, como reforço em sua comunicação, e sua sensibilidade delatavam a origem latina.


Certo dia Talese entrou em um prédio vazio e começo a subir suas escadas. Como não havia ninguém, ele foi subindo. Só no terceiro andar encontrou alguém. Foi algo inusitado. Havia um homem em cima de uma escada com um instrumento nas mãos que parecia um acordeon. Ele, então, ficou ali parado, em silêncio, observando o homem até que este notou sua presença.

Gay Talese perguntou o que o homem estava fazendo e a resposta que recebeu o deixou muito intrigado:

- Estou criando as palavras que vão lá fora.

Num ímpeto ele perguntou ao senhor se ele concordaria ser entrevistado.

- Mas quem se interessaria por isso?

- Eu. Respondeu Talese.

- Mas você não é repórter!

- Sou copy boy, mas no futuro serei repórter.

Gay Talese não podia imaginar que aquele encontro seria o estupim de sua carreira jornalística.

Foi, então, compartilhando com a platéia o início de sua carreira e de como aquela primeira entrevista foi valorizada pelos editores do jornal em que trabalhava que Gay começou a sua fala. Ali ele já mostrava reconhecimento e gratidão, dois diferenciais em sua vida.


Gay Talese compartilhou sua visão de Jornalismo, as características essenciais para exercer a profissão, suas impressões da atual época digital e a maior ameaça ao Jornal impresso. Criticou a atual aproximação dos jornalistas ao poder vigente e disse: "em meu tempo nós éramos considerados 'outsiders'! Hoje, os filhos dos jornalistas frequentam a mesma escola dos filhos dos políticos".


Contando que seus pais italianos tinham negócios em Nova Iorque (o pai era alfaiate a mãe tinha uma loja) e da importância de ter aprendido boas maneiras com eles (para obter e manter clientes), afirmou que todo jornalista precisa de educação, polidez. Depois, ele foi enfático ao afirmar que a curiosidade devia ser uma das características e motivações principais do jornalista. Escrever bem, fidelidade às fontes, lealdade e veracidade eram outras.


Em relação à Rede Web, Gay não é muito adepto e reconhece que, por causa dela, as pessoas estão escrevendo muito pior do que antes de seu advento. O interessante, porém, é que ele não acredita que a web seja a maior inimiga do jornal impresso. Ele diz que se o jornal impresso chegar a ser extinto, a mão que desferirá o golpe fatal será a pressa. Pressa essa que tem diminuído a qualidade das matérias, tanto em conteúdo quanto em exatidão.


Sobre o estilo de suas obras, diz que escreve como se pintasse. Que o leitor ao ler enxerga através de seus olhos. Por isso ele descreve o ambiente, as pessoas, as fisionomias, os estilos de roupa, o modelo dos carros etc.


A entrevista é o maior recurso do jornalista e ele deve investir nessa ferramenta para poder aproveitá-la ao máximo. O entrevistado precisa perceber que é testemunha de um fato histórico e que seu depoimento mostrará a relevância de sua participação. Essa valorização costuma ocasionar mais boa vontade e maior número de informações.


Ele espera que haja órgãos de comunicação que decidam pagar o preço da excelência e invistam mais em seus profissionais, patrocinando assim a qualidade.


Gay Talese esteve a semana passada na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) entre os dias 1 e 5 de julho de 2009. Segundo ele, foi realmente uma celebração conviver com pessoas que partilhavam da mesma paixão: os livros.


Em época de “pressa expressa” os textos de Gay Talese fornecem uma agradável adequação interna, pois os fatos chegam até nós com relevância e veracidade, mas também com poética. O insight que o conduziu ao New Journalism, proporcionando ao leitor uma forma menos árida de se tomar conhecimento dos fatos foi: “Se eu escrever ficção vou ser apenas mais um, mas se eu escrever não-ficção parecendo ficção, aí sim serei exclusivo".


E foi o que fez. E é o que faz!


Que bom!


Texto e fotos: Iara Vasconcellos

MASP 07/07/09

Um comentário:

  1. Muito bom Iarinha! Parabéns pela matéria sobre o Gay e principalmente sobre a Shadow, além, é claro, da cobertura do seu seminário, você está linda e escrevendo cada vez melhor. Tudo excelente! Abraços ao J.Marcos.

    Oswaldo Paião

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